sábado, 21 de julho de 2012

Sábado

Dia 28/07

As Invasões Bárbaras

Sala Redenção

15:30

Entrada Franca






Conheça os Palestrantes


Temístocles Américo Corrêa Cezar

Graduado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1988), Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1994) e Doutor em História pela École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris (2002). Professor do Departamento de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, desde 1994. Professor-Convidado (Directeur d'études invité) na École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris (2005 e 2011). Chefe do Departamento de História da UFRGS (1996-1997). Coordenador do Programa de Pós-Graduação em História da UFRGS (2003-2005). Vice-Presidente do Fórum dos Coordenadores de Pós-Gradução da UFRGS (2004-2005). Vice-Presidente e Presidente da Câmara de Pós-Graduação do CEPE-UFRGS (2007-2008). Diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS, desde 2008. Membro do Comitê de Ética em Pesquisa da UFRGS (2008-2012). Secretário-Geral da Sociedade Brasileira de Teoria e História da Historiografia (2010). Consultor e parecerista da CAPES e do CNPq. Tem experiência na área de História, atuando principalmente nos seguintes temas: escrita da historia, teoria da historia, historiografia antiga e moderna e historiografia brasileira, sobre os quais tem vários artigos e capítulos de livros publicados no Brasil, Portugal, Espanha, França e no Scielo Social Sciences.
Para acessar seu currículo:
http://lattes.cnpq.br/8099340759948179

Maria Luiza Filippozzi Martini
Possui graduação em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1968), especialização em Sociologia na École des Hautes Études en Sciences Sociales (1980) mestrado em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1993) e doutorado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2002). Atualmente é professor associado III na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil, na perspectiva de Cultura e Representações. Orienta Mestrado e Doutorado no Programa de Pós-Graduação em História.
Para acessar seu currículo:
http://lattes.cnpq.br/1483687969866500


Claudio Pereira Elmir
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1988), cursou o Mestrado em História (1996) e o Doutorado em História (2003) pela mesma Universidade. Desde 1989 é professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), em São Leopoldo, onde hoje atua no Curso de Graduação e no Programa de Pós-Graduação em História, na Linha de Pesquisa "Poder, Ideias e Instituições na América Latina". Editor da Revista História UNISINOS (Avaliada com o conceito B1 no Qualis Periódicos da CAPES). Sua pesquisa atual trata de narrativas de ex-exilados políticos do período das ditaduras civil-militares no Cone Sul da América, realizando uma análise comparativa de autores da Argentina, do Brasil e do Chile. Sua área de interesse, além da história da América Latina Contemporânea, está relacionada à Teoria e Metodologia da História, à Historiografia e aos estudos sobre a imprensa.
Para acessar seu currículo:
http://lattes.cnpq.br/2102829357249433

Cesar Augusto Barcellos Guazzelli
É professor de História da UFRGS. Dedica-se as áreas de História da América Latina, Teoria e Metodologia, História e Literatura e História Social do Futebol. Foi orientador da primeira tese no Rio Grande do Sul sobre História e Futebol, e desde 2005 ministra, de forma pioneira, a disciplina de História Social do Futebol na UFRGS. Foi a partir de sua disciplina que os alunos organizaram o maior campeonato acadêmico de futebol da UFRGS: a Taça Cesar Guazzelli, que já contou com 7 edições em 5 anos. Também tem se dedicado a trabalhos relacionados a área Cinema-História, coordenando diversas atividades nos últimos anos. Publicou mais de 14 livros e 31 artigos em periódicos especializados.
Para acessar seu currículo: http://lattes.cnpq.br/4706540695818245

O cinema de Denys Arcand

Por João Câmara



O ano de 1986 representa um marco para o cinema canadense. Foi o ano em que o renomado diretor Denys Arcand lançou o seu primeiro longa-metragem aclamado pela crítica internacional. O Declínio do Império Americano (1986) fez com que o diretor canadense passasse do anonimato ao reconhecimento internacional praticamente do dia para noite. Sua produção era essencialmente independente, caracterizada pelo grande número de curtas-metragens e documentários. Todavia, a partir de 1986 o panorama de sua carreira toma um novo rumo, e após duas décadas alternando entre grande sucessos e períodos inativos, em 2004 o diretor foi finalmente premiado com o Oscar de melhor filme estrangeiro, por seu longa-metragem As Invasões Bárbaras.



É impossível dissociar As Invasões Bárbaras (2003) do filme O Declínio do Império Americano (1986), pois ainda que sejam separados por um período de dezessete anos, constituem duas partes de uma mesma narrativa. Os dois filmes abordam um tema muito recorrente em toda sua produção, a sociedade capitalista, e conseqüentemente a crítica de Arcand às relações geradas por esse modo de produção. Essas duas produções de destaque internacional, nesse sentido, não destoam do cinema de Arcand pré 1986. Entre sua longa lista de documentários, o mais notório deles é We work in Cotton (1970), onde o diretor retrata a precária situação dos trabalhadores da indústria têxtil de Quebec, no Canadá.



O filme As Invasões Bárbaras retrata a crise de uma sociedade movida pelo capital. O diretor canadense tem como intenção principal analisar e criticar um sistema econômico através das relações humanas. Nesse aspecto, ele se diferencia da abordagem apocalíptica e sensacionalista de muitos filmes do seu vizinho Estados Unidos da América. A queda de um império ou a crise de um modo de produção são representados pela crise do homem, dos sujeitos que fazem parte de laços fragilizados e distorcidos pela vida ditada por motivações econômicas.  A narrativa gira em torno de um homem que diagnosticado com uma doença terminal enfrenta uma crise existencial e identitária. Arcand utiliza de maneira brilhante o então enredo simples e até recorrente no cinema para construir uma crítica a sociedade contemporânea onde o dinheiro pode comprar tudo, menos a vida. 




É possível fazer analogia entre as duas produções de Arcand e a história do fim do império romano. A escolha dos títulos das obras do diretor canadense é proposital.  Tanto no mundo antigo ocidental como no império americano contemporâneo, o inimigo externo aparece como uma possível justificativa para o declínio da sociedade. A produção de 2003 integra uma conjuntura social e política pós 11 de setembro de 2001, momento em que a grande potência do mundo globalizado e contemporâneo sofreu um ataque externo e tem sua hegemonia enfraquecida. Denys Arcand com certeza não apontaria as supostas “invasões bárbaras” de 2001 como sendo o fator gerador de crise, muito pelo contrário, desde 1986 o diretor atenta para esse declínio abordando as relações internas dessa sociedade movida pelo dinheiro. As invasões bárbaras de Denys Arcand finalizam uma elaborada crítica do diretor canadense ao modo de produção norte americano iniciada em 1986 com o lançamento de O Declínio do Império Americano.

           

João Câmara é graduando em História na UFRGS

A bela do sábado de tarde e a Musa do Apocalipse



Marie-Josée Croze
atriz canadense








Marina Hands
atriz francesa







Trailer As invasões Bárbaras

sábado, 14 de julho de 2012

Sábado
dia 21/07

2012

Sala Redenção
15:30



Conheça os Palestrantes


Gerson Wasen Fraga é professor de História na UFFS, em Erechim. Graduou-se pela UFRGS onde também fez o mestrado. Pela mesma instituição realizou o doutorado, defendendo em 2009 a tese “A derrota do Jeca na imprensa brasileira: nacionalismo, civilização e futebol na copa do mundo de 1950”, primeira tese realizada no RS sobre história e futebol. Publicou mais de  4 livros e  8 artigos em periódicos especializados.

Para acessar seu currículo: http://lattes.cnpq.br/0751889477523062


José Orestes Beck é formado em História pela UFRGS. Organizou cinco ciclos de cinema e foi um dos organizadores do livro "A Prova dos 9: a história contemporânea no cinema". se dedica a pesquisa de diversas temáticas com destaque para o Surrealismo e a ficção-científica cinematográfica. Atualmente é professor em Tapes.
Roland Emmerich, o mensageiro do Apocalipse

Augusta Silveira

O roteirista, produtor e diretor de cinema Roland Emmerich é, sem dúvida, um bom observador. À parte de seus projetos pouco aclamados pela crítica como a refilmagem de “Godzilla” (1998) e o bizarro “Maldita Aranhas!” (2002), o diretor trouxe para o cinema hollywoodiano alguns blockbusters notáveis como “O Patriota” (2000) e “Independence Day” (1996). O que intriga, porém, é o olho clínico de Emmerich que, abusando dos efeitos especiais e dos heroísmos, sabe mostrar aquilo que o público quer (e quando ele quer). Embora isso leve seus filmes a um massacre de críticas nada encorajadoras, os números de bilheteria mostram que o público ainda vai ao cinema para ver desastres naturais e explosões gigantescas.
É em meio a esses cataclismos sucessivos que se desenvolvem as tramas das ficções apocalípticas de Emmerich: “Independence Day” (1996), “O Dia Depois de Amanhã” (2004) e “2012” (2009).


Em “Independence Day” (1996), o fim do mundo é fruto de uma gigantesca invasão alien que começa no dia dois de julho e termina no dia quatro. Coincidentemente, o fim da ocupação se dá no dia da Independência americana, conferindo um caráter patriótico e heroico aos sacrifícios dos personagens na luta pela sobrevivência. Apesar de a invasão ser mundial, com naves cobrindo os céus das metrópoles internacionais mais famosas, o comando da resistência e, mais tarde, da revanche é, naturalmente, americano. A ação começa em Los Angeles, Washington e Nova York para então convergir no deserto de Nevada, na famosa Área 51 (especula-se que seja uma base de estudos extraterrestres, e assim é retratada no filme), onde os protagonistas se encontram para organizar a ofensiva que acaba por salvar a humanidade.
Os clichês são uma presença constante, assim como em todos os blockbusters de ação. A emblemática explosão da Casa Branca pelos alienígenas é só um exemplo de como Emmerich abusa do visual em seus trabalhos, traço que se acentua ao longo de sua trajetória como diretor. O herói carismático também é essencial para a trama, um piloto decidido a salvar sua família e lutar por sua pátria, interpretado pelo ator Will Smith. Além disso, o “cientista maluco” da Área 51 e o personagem do jornalista estudioso que descobre um meio de destruir a nave alienígena completam a lista de lugares comuns do filme (e de muitos outros do gênero).


A questão dos Estados Unidos como grande força agregadora para o sucesso da expulsão dos aliens é explorada à exaustão, com elementos simples como a aliança entre o Exército, Aeronáutica e governo americano, enfatizando sua organização e poderio militar que guiaram outras nações rumo à ofensiva vitoriosa. Outro elemento é o presidente americano, que no filme se mostra sempre patriótico e o espírito motivador da última batalha contra os alienígenas, usando a data da vitória ainda por vir como “a segunda independência americana”, que dá título ao filme.
            Obviamente, o apocalipse alien de Emmerich não se concretiza, mas deixa um rastro de destruição. O quatro de julho passa a ter o duplo significado proposto pelo presidente no discurso final, a Independência americana e libertação do curto domínio alienígena que, por dois dias, assustou o mundo com a ameaça da destruição geral.

Augusta Silveira é graduanda em História na UFRGS

A bela do sábado de tarde e a Musa do Apocalipse



Amanda Peet
atriz estadunidense










Thandie Newton
atriz britânica











Trailer 2012

sábado, 7 de julho de 2012

Sábado
dia 14/07

O Sacrifício
de Andrei Tarkovski

Sala Redenção
15:30



Conheça os Palestrantes


Anderson Zalewski Vargas

Possui graduação em Licenciatura Em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1986), mestrado em Pós Graduação Em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1992) e doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (2001). Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de História, com ênfase em História da Grécia Antiga, atuando principalmente nos seguintes temas: razão, historiografia, mito, historiografia antiga e relação entre história e retórica nos mundos antigo e contemporâneo.
Para acessar seu currículo:
http://lattes.cnpq.br/0761891182417748

Rafael Hansen Quinsani é doutorando em História na UFRGS. Tem se dedicado a área cinema-história desde a graduação. Organizou cinco ciclos de cinema e publicou diversos artigos em livros e periódicos. Em 2010 defendeu a dissertação: A Revolução em Película: uma reflexão sobre a relação cinema-história e a Guerra Civil Espanhola.
Para acessar seu currículo: http://lattes.cnpq.br/8582953893345367



FUTUROS VERMELHOS

Ficção científica além da Cortina de Ferro



Bruno Schlatter

É interessante notar como a ficção científica se tornou, ao longo do século XX, um gênero literário associado aos Estados Unidos e ao mundo capitalista e anglófono de maneira geral. Apenas para fins de ilustração, um blog (obviamente norte-americano) dedicado ao tema fez algum tempo atrás uma listagem de obras de ficção científica e fantasia na forma de um fluxograma para guiar um leitor iniciante. Entre os selecionados, a predominância quase absoluta de autores de língua inglesa é patente – as únicas obras em outro idioma presentes são as do francês Júlio Verne, praticamente o pai do gênero. É claro que não se pode tomar um trabalho tão informal como exemplo geral (afinal, uma lista que inclua nomes como Max Brooks, cujo elemento mais significativo do currículo é ser filho do comediante Mel Brooks, e ignora outros como o argentino Jorge Luís Borges ou o italiano Italo Calvino, não pode ser levada muito a sério), mas ela se presta bem para ilustrar a predominância da língua na definição dos paradigmas mais conhecidos do gênero, através de autores como L. Sprague de Camp, Isaac Asimov e Ray Bradbury.

Pode parecer fácil concluir a partir destes autores mais paradigmáticos que a ficção científica como um todo é cria do capitalismo moderno, uma espécie de subproduto da ideologia do progresso absoluto e do avanço tecnológico irrestrito. Como toda conclusão precipitada, no entanto, ela ignora todo o panorama mais amplo do gênero, com autores que muitas vezes escreveram em outras línguas e que, justamente por isso, não tiveram um alcance mais significativo no contexto cultural ocidentalizado após a Segunda Guerra Mundial.

Os países socialistas do leste europeu, em especial, a começar pelos que formavam a antiga União Soviética, foram durante todo o século XX bastante prolíficos neste campo. Pode-se resgatar esta tradição na literatura fantástica, na verdade, desde os contos eslavos medievais, e mesmo alguns dos grandes escritores russos do fim do século XIX e começo do XX, desde pelo menos Nikolai Gogol, com o seu clássico conto O Nariz, até Mikhail Bulgakov, que chegou a se aventurar pela ficção científica propriamente dita em histórias como Um Coração de Cachorro. A própria palavra robô tem raiz tcheca, uma vez que os famosos robôs do gênero apareceram pela primeira vez em um peça teatral do escritor Karel Čapek.

É preciso relacionar, é claro, muito da ficção científica em países socialistas à própria ideia de futuro revolucionário. A ideologia revolucionária é uma ideologia que se volta para o futuro, tentando prever a vitória final do comunismo contra o capitalismo, e isso não poderia ser simplesmente ignorado por um gênero literário cujo elemento marcante é justamente a especulação sobre a ciência e o futuro da humanidade. Some-se ainda a censura imposta pelo regime totalitário, que inibia o uso da literatura com fins mais críticos, e tem-se toda uma tradição de utopias fantásticas e batalhas entre comunistas e capitalistas no futuro distante, do qual destaca-se, acredito, as obras do russo Aleksey N. Tolstoy. Aelita, por exemplo, narra a viagem de um engenheiro comunista a uma sociedade totalitária em Marte, e é considerada por muitos como a primeira ficção científica espacial soviética (ainda que com um enredo suspeitamente parecido com A Princesa de Marte, do norte-americano Edgar Rice Burroughs, recentemente adaptado como um blockbuster de cinema com o nome de John Carter: Entre Dois Mundos).

Algumas distopias mais críticas ao regime, no entanto, também foram escritas neste período, mas foram muitas vezes proibidas de serem publicadas até a abertura política no fim do século. Além de casos mais emblemáticos, como o já citado Bulgakov, destaca-se principalmente a obra do russo Yevgeny Zamyatin, cuja obra-prima é We, uma sátira da racionalização do trabalho passada mil anos após o Estado Único conquistar toda a Terra. Em um mundo onde as pessoas são referidas por códigos de letras e números – o protagonista, por exemplo, é chamado D-503 -, Zamyatin aproveitou para realizar várias críticas ao governo bolchevique pouco após a Revolução de Outubro (o livro foi completado em 1921, e uma primeira edição foi publicada em 1924 na Inglaterra; mas ele foi publicado no seu país de origem apenas em 1988). Apesar de pouco conhecido no ocidente, o livro é considerado por alguns críticos e ensaístas como uma das grandes distopias da ficção científica do século passado, a par com 1984, de George Orwell, e Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley.

O título de mais conhecido escritor de ficção científica a leste da Cortina de Ferro, no entanto, provavelmente pertence ao polaco Stanislaw Lem, autor de livros como A Cyberíada, Memórias Encontradas numa Banheira, e o seu mais famoso, Solaris, adaptado duas vezes para o cinema. Ele já pertence, no entanto, a um período posterior do mundo socialista, pós-Stálin, escrevendo boa parte dos seus trabalhos mais conhecidos no  período de distensão do conflito velado entre as superpotências durante as décadas de 1960 e 1970. Suas obras, mesmo as mais leves e descontraídas como A Cyberíada, possuem um tom mais crítico e de questionamento, especulando sobre a natureza de inteligências alienígenas e as vicissitudes da comunicação humana.



Lem também nos permite fazer a ligação com outro importante nome da ficção científica socialista, porém em outra mídia que não a literatura, o cinema. A primeira e mais conhecida adaptação de Solaris ficou a cargo de Andrei Tarkovsky, renomado diretor russo, e recebeu diversos prêmios e nomeações em festivais internacionais. Foi uma produção com uma dose considerável de polêmicas, em especial entre os seus dois criadores, que divergiram bastante sobre a fidelidade da adaptação. O filme de Tarkovsy, de maneira geral, busca explorar o drama mais humano dos cientistas envolvidos com a descoberta de uma inteligência alienígena do tamanho de um planeta, diferente da obra original de Lem, que tem como elemento central a própria inteligência extraterrena e o seu contato com os astronautas da Terra.

Outra obra importante de Tarkovsky com elementos de ficção científica é Stalker, baseado na novela Roadside Picnic, dos irmãos Arkady e Boris Strugatsky. Como em Solaris, a adaptação também exibe muito mais a assinatura do diretor do que dos seus autores originais. O centro da narrativa, novamente, está nos personagens humanos – um escritor e um cientista que querem fazer uma incursão à “Zona”, uma região proibida onde fenômenos inexplicáveis acontecem, e, principalmente, o guia que contratam para levá-los –, e menos no seu elemento fantástico, que, na novela, supõe-se abertamente ser de origem alienígena. Pode-se dizer que Tarkovsy faz uma leitura mais universal do enredo no seu trabalho, com questionamentos sobre a própria natureza humana e a sua busca de sentido e dignidade, enquanto o mundo dos irmãos Strugatsky recorre mais diretamente à sátira do que à alegoria, servindo de veículo para críticas mais diretas à arte, à ciência e a religião.



Mesmo nos dias de hoje há espaço para o fantástico e a ficção científica entre autores de ex-repúblicas soviéticas, mesmo aqueles que, fugindo da classificação de literatura de gênero, atingem algum renome literário. O principal destes possivelmente seja, acredito, o russo Victor Pelevin, que os mistura com filosofia oriental em obras como Omon-Ra, A Vida dos Insetos e The Sacred Book of the Werewolf como uma forma de satirizar e criticar a sociedade pós-soviética no seu país. Outro autor russo contemporâneo a explorar o tema é Vladmir Sorokin, que em Day of the Oprichnik que retrata a possibilidade de uma volta ao czarismo em uma Rússia distópica algumas décadas no futuro. E outros países onde o gênero é prolífico nos dias de hoje incluem a Ucrânia, muito embora diversos autores do país na verdade publiquem seus livros por editoras russas, a República Tcheca, e a Romênia.

Este pequeno resgate de obras e autores pouco conhecidos no mundo ocidental, é claro, não quer ser exatamente um guia definitivo, mas apenas um ponto de partida para entender melhor a ficção científica escrita fora da esfera cultural do ocidente. Pode-se encontrar obras assim também no Japão e na China, na Indonésia e mesmo em países muçulmanos. O importante é a consciência de que especular sobre o futuro, a ciência e a tecnologia não é necessariamente uma característica do mundo capitalista, mas um traço comum à maioria das sociedades humanas, excetuando-se talvez as mais simples e arcaicas.



Sugestões de leituras:

Blog Leitura Escrita. Fluxograma para um leitor iniciante de ficção científica e fantasia. http://leituraescrita.com.br/2011/10/07/fluxograma-para-um-leitor-iniciante-de-ficcao-cientifica-e-fantasia/

BULGAKOV, Mikhail. Um Coração de Cachorro e Outras Novelas. São Paulo: EdUSP, 2010.

ZAMYATIN, Yevgeny. We. New York: Penguin, 1993.

LEM, Stanislaw. Solaris. Rio de Janeira: Relume-Dumará, 2003.

_____________. Cyberiad. San Diego: Harcourt, 2002.

STRUGATSKY, Arkady, & STRUGATSKY, Boris. Roadside Picnic. Chicago: Chicago Review Press, 2012.

PELEVIN, Victor. Omon-Ra. New York: New Directions, 1998.

SOROKIN, Vladmir. Day of the Oprichnik. New York: Farras, Straus and Giroux, 2011.



Bruno Schlatter

É professor de História na Rede Municipal de Porto Alegre

A bela do sábado de tarde



Susan Fleetwood
atriz britânica





O sacrifício