sábado, 21 de julho de 2012


O cinema de Denys Arcand

Por João Câmara



O ano de 1986 representa um marco para o cinema canadense. Foi o ano em que o renomado diretor Denys Arcand lançou o seu primeiro longa-metragem aclamado pela crítica internacional. O Declínio do Império Americano (1986) fez com que o diretor canadense passasse do anonimato ao reconhecimento internacional praticamente do dia para noite. Sua produção era essencialmente independente, caracterizada pelo grande número de curtas-metragens e documentários. Todavia, a partir de 1986 o panorama de sua carreira toma um novo rumo, e após duas décadas alternando entre grande sucessos e períodos inativos, em 2004 o diretor foi finalmente premiado com o Oscar de melhor filme estrangeiro, por seu longa-metragem As Invasões Bárbaras.



É impossível dissociar As Invasões Bárbaras (2003) do filme O Declínio do Império Americano (1986), pois ainda que sejam separados por um período de dezessete anos, constituem duas partes de uma mesma narrativa. Os dois filmes abordam um tema muito recorrente em toda sua produção, a sociedade capitalista, e conseqüentemente a crítica de Arcand às relações geradas por esse modo de produção. Essas duas produções de destaque internacional, nesse sentido, não destoam do cinema de Arcand pré 1986. Entre sua longa lista de documentários, o mais notório deles é We work in Cotton (1970), onde o diretor retrata a precária situação dos trabalhadores da indústria têxtil de Quebec, no Canadá.



O filme As Invasões Bárbaras retrata a crise de uma sociedade movida pelo capital. O diretor canadense tem como intenção principal analisar e criticar um sistema econômico através das relações humanas. Nesse aspecto, ele se diferencia da abordagem apocalíptica e sensacionalista de muitos filmes do seu vizinho Estados Unidos da América. A queda de um império ou a crise de um modo de produção são representados pela crise do homem, dos sujeitos que fazem parte de laços fragilizados e distorcidos pela vida ditada por motivações econômicas.  A narrativa gira em torno de um homem que diagnosticado com uma doença terminal enfrenta uma crise existencial e identitária. Arcand utiliza de maneira brilhante o então enredo simples e até recorrente no cinema para construir uma crítica a sociedade contemporânea onde o dinheiro pode comprar tudo, menos a vida. 




É possível fazer analogia entre as duas produções de Arcand e a história do fim do império romano. A escolha dos títulos das obras do diretor canadense é proposital.  Tanto no mundo antigo ocidental como no império americano contemporâneo, o inimigo externo aparece como uma possível justificativa para o declínio da sociedade. A produção de 2003 integra uma conjuntura social e política pós 11 de setembro de 2001, momento em que a grande potência do mundo globalizado e contemporâneo sofreu um ataque externo e tem sua hegemonia enfraquecida. Denys Arcand com certeza não apontaria as supostas “invasões bárbaras” de 2001 como sendo o fator gerador de crise, muito pelo contrário, desde 1986 o diretor atenta para esse declínio abordando as relações internas dessa sociedade movida pelo dinheiro. As invasões bárbaras de Denys Arcand finalizam uma elaborada crítica do diretor canadense ao modo de produção norte americano iniciada em 1986 com o lançamento de O Declínio do Império Americano.

           

João Câmara é graduando em História na UFRGS

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