Roland Emmerich, o mensageiro do Apocalipse
Augusta Silveira
O
roteirista, produtor e diretor de cinema Roland Emmerich é, sem dúvida, um bom
observador. À parte de seus projetos pouco aclamados pela crítica como a
refilmagem de “Godzilla” (1998) e o bizarro “Maldita Aranhas!” (2002), o
diretor trouxe para o cinema hollywoodiano alguns blockbusters notáveis como “O
Patriota” (2000) e “Independence Day” (1996). O que intriga, porém, é o olho
clínico de Emmerich que, abusando dos efeitos especiais e dos heroísmos, sabe
mostrar aquilo que o público quer (e quando ele quer). Embora isso leve seus
filmes a um massacre de críticas nada encorajadoras, os números de bilheteria
mostram que o público ainda vai ao cinema para ver desastres naturais e explosões
gigantescas.
É
em meio a esses cataclismos sucessivos que se desenvolvem as tramas das ficções
apocalípticas de Emmerich: “Independence Day” (1996), “O Dia Depois de Amanhã”
(2004) e “2012” (2009).
Em
“Independence Day” (1996), o fim do mundo é fruto de uma gigantesca invasão
alien que começa no dia dois de julho e termina no dia quatro.
Coincidentemente, o fim da ocupação se dá no dia da Independência americana,
conferindo um caráter patriótico e heroico aos sacrifícios dos personagens na
luta pela sobrevivência. Apesar de a invasão ser mundial, com naves cobrindo os
céus das metrópoles internacionais mais famosas, o comando da resistência e,
mais tarde, da revanche é, naturalmente, americano. A ação começa em Los
Angeles, Washington e Nova York para então convergir no deserto de Nevada, na
famosa Área 51 (especula-se que seja uma base de estudos extraterrestres, e
assim é retratada no filme), onde os protagonistas se encontram para organizar
a ofensiva que acaba por salvar a humanidade.
Os
clichês são uma presença constante, assim como em todos os blockbusters de
ação. A emblemática explosão da Casa Branca pelos alienígenas é só um exemplo
de como Emmerich abusa do visual em seus trabalhos, traço que se acentua ao
longo de sua trajetória como diretor. O herói carismático também é essencial
para a trama, um piloto decidido a salvar sua família e lutar por sua pátria,
interpretado pelo ator Will Smith. Além disso, o “cientista maluco” da Área 51
e o personagem do jornalista estudioso que descobre um meio de destruir a nave
alienígena completam a lista de lugares comuns do filme (e de muitos outros do
gênero).
A
questão dos Estados Unidos como grande força agregadora para o sucesso da
expulsão dos aliens é explorada à exaustão, com elementos simples como a
aliança entre o Exército, Aeronáutica e governo americano, enfatizando sua
organização e poderio militar que guiaram outras nações rumo à ofensiva
vitoriosa. Outro elemento é o presidente americano, que no filme se mostra
sempre patriótico e o espírito motivador da última batalha contra os
alienígenas, usando a data da vitória ainda por vir como “a segunda
independência americana”, que dá título ao filme.
Obviamente, o apocalipse alien de
Emmerich não se concretiza, mas deixa um rastro de destruição. O quatro de
julho passa a ter o duplo significado proposto pelo presidente no discurso
final, a Independência americana e libertação do curto domínio alienígena que,
por dois dias, assustou o mundo com a ameaça da destruição geral.
Augusta
Silveira é graduanda em História na UFRGS
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